Belo exemplar Verde Hippie 1973.
Foi apenas em Março de 2003, já como membro do Fusca Clube
do Brasil que “descobri” o modelo, que apesar de bem raro, aparecia “a conta
gotas” nos encontros e eventos. É interessante observar como é enganosa a idéia
de que uma montadora como a VW tida como uma das mais conservadoras dessa época
em termos de inovações e diversificações era simplória em termos de evoluções,
opções e minúcias. O Fusca além de receber muitas melhorias e avanços em cada
ano que foi produzido, possuiu vasta complexidade relativa a opções de cores,
acabamentos e versões. A ponto de enganar especialistas, ainda mais levando em
conta a precária documentação, incluindo aí a própria fábrica.
Fusca Série Bravo no salão de 1972, numa pré-série ainda em “Azul
Diamante”, cor que daria lugar ao Azul Niágara de 1973.
Acompanhando o mercado de carros antigos nos últimos anos, ainda
é possível encontrar uma enorme quantidade de exemplares à venda, legado da
produção nacional superior a 3,3 milhões de unidades entre 1959 e 1996 (com o
hiato 1987-1992). O que mais impressiona, falando em 2019, é o alto grau de sobrevivência
desses carros. Segundo o Detran do Estado de São Paulo ainda existem 827.202
unidades do modelo com o Renavam ativo. Especula-se em número parecido pulverizado
pelos demais estados da federação, o que daria uma taxa de resiliência de 1:2
em relação à produção. Porém é certo que desse fantástico número de carros
ainda disponíveis, a qualidade vem diminuindo muito. Até cerca de 10 anos atrás
ainda se encontrava com certa abundância exemplares excelentes. Hoje
existem muitos carros restaurados fora de padrão ou com problemas ocultos a
breves análises, que podem enganar pessoas que não tenham tanta familiaridade e
experiência com esses modelos, aliás muitos potenciais compradores que pela
pouca idade, não conviveram com esses carros ainda em produção, mas
consideram-no um objeto carismático.
Portanto, nesse mercado, não é fácil encontrar
modelos realmente bons, com procedência, integridade e originalidade. Mais
difícil ainda é encontrar as versões mais raras. Splits e Ovais já viraram
peças de museu, carcaças são negociadas a valores inimagináveis, os precursores
de 1959 desapareceram, os Cornowagen viraram lenda, os Pé de Boi de 1966
continuam sendo aquela meia dúzia que circula por Lindóia e Araxá, bons
Bizzorrões evaporaram, os incomuns 1300 GL agora estão ainda mais, os Love
e Cristalinos contam-se nos dedos...
Última Série e Série Ouro atingem cotações fora da razoabilidade.
Os 1500 da Série Bravo sempre foram difíceis porque não perduraram
em produção, em 1973 a diferença de preço entre o Fusca mais barato e mais caro
era da ordem de 30%, o Bravo que deveria ficar no meio do caminho era apenas 5%
mais barato que o 1500 completo. Além disso, ouve-se estórias de 1500 Standard
que logo receberam “os acessórios que faltavam”, matando assim sua identidade. Foi
a antítese do 1300 L, lançado poucos anos depois.
Devo ter visto se muito uns cinco ou seis anúncios de carros
com essa configuração na vida. Não seria em dezembro de 2019 que esperaria ver
um. Há algum tempo voltei a pesquisar sobre Fuscas à venda, que para mim é um
grande divertimento, por conta de um amigo que pensa em comprar um exemplar
para sua filha. Nisso me deparo com o anúncio deste carro:
Branco Lótus de 1973 com bom grau de originalidade, alguns
pormenores a fazer, regular ou “retirar”, nada que comprometa. No geral, excelente oportunidade "histórica".
Revendo algumas referências bibliográficas, recorri a uma
das maiores no assunto, Sr. Alexander Gromow. Em uma de suas matérias, pude
rever uma foto publicitária famosa da VW
que sempre me intrigou:
Muito bem, há tempos sei da existência dos Fuscas 1300, 1500
e 1500 Standard em 1973, bem como do SP2 e seu irmão unicórnio SP1,
acompanhados pelo belo Karmann Ghia TC. Então o miolo da foto estava explicado.
Já a duplicidade no caso da Variant, TL 2 e 4 portas, nunca fora tratada com
clareza pela VW. Até o assunto ser muito bem explorado pelo citado autor. Na
verdade, tratava-se sobre a filosofia geral da marca para aquele ano. Vale a
leitura: