quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Impressões - Mitsubishi Lancer Sportback Ralliart


Estive a convite de um amigo, funcionário de concessionária Mitsubishi, avaliando e testando o Mitsubishi Lancer Sportback Ralliart 2012, esportivo que passa quase incógnito em nosso mercado, já que a publicidade é direcionada para o Lancer Sedan que colhe frutos da imagem propagada pela versão Evo X, este último uma autêntica versão de rua do conhecido carro de rali da marca. Claro que tecnologia e materiais de ponta, tem seu preço que aliados aos nossos impostos abusivos fazem do esportivo algo intangível para a maioria.

Para preencher a vaga intermediária existe a versão Ralliart, que na verdade é o nome da divisão esportiva dos carros de alta performance da Mitsubishi. Nos mercados americano e japonês esse "pack" esportivo pode vestir tanto a versão sportback (com sua incomum carroceria) como a sedan. Aqui, país aonde certos marketeiros definem estratégias duvidosas de mercado, só temos a versão sportback. Isso é muito curioso, afinal recentemente recebemos a notícia de que nossa produção anual automotiva passa a ser a quarta maior do globo, contudo o consumidor brasileiro (falando em âmbito geral e não em específico do veículo avaliado) acaba tendo as famosas cores, preta e prata fora alguns poucos pacotes de implementos a serem decididos numa eventual compra, é o famoso "o carro escolhendo o consumidor" e não o contrário.

Impasses à parte e design também, já que o veículo gera opiniões das mais variadas quanto a questão estética, no fundo, talvez seja a falta de costume com o formato dessa carroceria que certo preconceito possa eventualmente surgir. No passado ela já esteve entre nós em muitos veículos, para citar um que se aproxima bastante desse caso em específico basta lembrar do Monza Hatch (que era um hatchback quase notchback - carroceria aonde o terceiro volume típico aos sedãs é pouco pronunciado e há grande inclinação da coluna "C" - gerando assim um "2 volumes e meio", Ford Escort mk2 é um bom exemplo), atualmente temos alguns modelos que se aproximam desse conceito de "hatch espichado" como Ford Focus Hatch e Chevrolet Cruze Sport 6, mas é fato que o mercado daqui se direciona com mais ênfase para os sedãs. Na prática essa configuração se mostra interessante, pois alia certa jovialidade nas formas e atributos no porta malas.

São nos detalhes e na dinâmica do veículo que percebemos a herança verdadeira do desenvolvimento em pista que a marca produziu ao longo dos últimos anos, o engenho Mivec é um dois litros à gasolina, injeção eletrônica multiponto sequencial, turbo e intercooler, este último de tamanho considerável recebendo ar fresco pelas aberturas superiores do capô. Tudo isso à moda antiga, ou seja, não se trata de um projeto originado no conceito downsize com turbinas pequenas e injeção direta que tantas montadoras vem adotando. A tração é nas quatro rodas permanente, possui 3 diferenciais, sendo o central ativo que faz ajustes de distribuição de torque entre os eixos, automaticamente e também por seleção feita pelo motorista que pode ser Tarmac(asfalto), Gravel(pedras) e Snow(neve). Possui vários implementos de segurança e nivelados com a concorrência, 7 airbags, controles de estabilidade e tração, o diferencial central citado, sistemas de freio ABS + EBD, sistema de partida em rampa (que não permite que o carro role entre soltar o freio e iniciar marcha), pontos para fixação de cadeira infantil no padrão Iso Fix e sistema de deformação programada da estrutura de carroceria que na avaliação de crash tests da NHTSA(associação americana), aonde conseguiu razoáveis 4 estrelas nos 4 testes promovidos. No entanto esse despendimento em engenharia estrutural acima da média, rendeu um peso extra ao veículo, são nada menos que 1.605Kg em ordem de marcha. Algo exagerado para uma carroceria de 4.585mm x 1.760mm, e que se fazem presentes ao acelerar o automóvel de proposta esportiva.


Ao entrar, numa primeira checagem, está lá tudo que se espera, principalmente para quem paga os sugeridos 140 mil reais; comandos no volante, multimídia com GPS e um simples mas funcional computador de bordo. Sobre o volante, com assistência apenas hidráulica, não gostei da regulagem que é apenas de altura, pois profundidade, ainda mais pelo caráter, seria na minha opinião, item obrigatório, para que assim proporcionasse a posição ideal para diferentes demandas. No entanto, um ponto louvável são as borboletas do câmbio, reais, já que pelo tamanho avantajado e fixação na coluna ao invés do volante (como deve ser), encorajam o condutor a realmente utilizá-las. Os materiais de acabamento seguem a tendência nipônica, sem suntuosidade mas todos de boa qualidade, toque e bom tratamento acústico.

Indo ao que realmente interessa, fomos andar com a máquina, em percurso razoável, contemplando trecho urbano e estrada com direito a alguns anéis de acesso aonde pude conferir o comportamento em situações de curvas de média e alta velocidade. Logo na primeira acelerada notamos a disposição do motor com seus 250 cv e um torque quase plano de 35 Kgf.m entre 2.500 e 4.275 rpm, a "abertura" do turbo tem, mesmo que suavizada, seu momento de "patada", mantendo assim a sensação dos turbos convencionais, aliada porém à certa característica "giradora" dos motores nipônicos multiválvulas, com suas variações de amplitude e tempo na abertura das válvulas (note a escala numérica do conta giros), apesar de que no frigir dos ovos  o pico de potência ocorre a não tão altas 6.000 rpm.
Em linha reta é um carro que transmite uma boa sensação, mesmo sem ter números espetaculares (dados de fábrica: 0-100Km/h em 7,1 segundos), é o câmbio automatizado de 6 marchas que faz o espetáculo acontecer, associado a um sistema de dupla embreagem, realiza trocas de marcha em frações ínfimas, ainda mais se o câmbio estiver em modo Sport no qual previamente selecionei. Pra falar a verdade, andei em alguns bons sistemas sequenciais alemães, em câmbios automáticos e em automatizados com "dual clutch", só não experimentei o PDK da Porsche que se diz fazedor de milagres. Dos que andei, posso afirmar categoricamente, nunca vi uma passagem tão rápida de marchas, é algo realmente espantoso. Inclusive nas reduções o carro parece sempre "entender" o desejo do condutor, com a eletrônica pouco invasiva e o "punta taco" realizado automaticamente pelo laureado sistema; no modo Sport ainda há entendimento por parte do câmbio para que não solte marcha, comporta-se portanto como um bom câmbio mecânico, fez me lembrar outro carro que andei recentemente, experiência também postada neste canal.

Daí vieram as curvas, o bom comportamento não foi apenas excelente, com algo próximo a 0 em termos de rolling de carroceria, fiquei surpreso como a suspensão está bem calibrada. Mesmo com os baixos 215/45 R18, sendo suspensos por uma convencional Mcpherson à frente e uma Multilink atrás (e devidas barras estabilizadoras), não houve nehuma sensação de aspereza ou curso de suspensão demasiadamente curto. O veículo administra o compromisso conforto x estabilidade como poucos. A tração AWD full time é ponto chave nessa questão. Também surpreende a tendência nula de sub ou sobre esterços, na verdade se "aponta" o carro nas tangências da maneira como desejar e no limite, pequenos golpes de volante são prontamente atendidos pela caixa de relação razoavelmente direta.

Como conclusão, foi a constatação de que um carro pouco conhecido, com baixo volume de vendas(até mesmo pela disponibilidade restrita de unidades em nosso mercado) e design pouco convencional pode demonstrar-se compra absolutamente acertada para quem visa o desfrute de um comportamento irrepreensivelmente esportivo, uma grata surpresa eu diria.


Agora, eu fico imaginando todas essas qualidades dinâmicas podendo ser desfrutadas no Autódromo Vello Città, obra prima recentemente realizada pela Mitsubishi no interior paulista, em Mogi Guaçú, para promoção de seus veículos esportivos e tantos outros eventos realizados por diferentes grupos. Pois além de precursores no sentido do empreendimento, eles ainda acertaram a mão na elaboração do traçado que contempla situações de pista plana, em aclive, declive, raios formosamente concordantes e de quebra um "saca rolha" à la Laguna Seca. Algo digno de nota.