sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Apresentação

Com convicção posso dizer, o universo automotivo é algo intrínseco a meu ser, meu caráter e minha existência. Minhas primeiras lembranças de infância remontam provas de que a semente surgiu de uma maneira espontânea, não nasci em família de autoentusiastas, só fui dar os primeiros passos na minha sede por conhecimento automotivo no início da adolescência. Porém, nos primeiros anos de vida, foi um tal Fusca Branco Polar 1975, que inspirou meus sonhos, literalmente inclusive. Lembro como se fosse hoje, escondido no "chiqueirinho", embalado pelo tiquetaquear e calorzinho de seu boxer 1300, caía por vezes em sono profundo... e me deixava levar por todos aqueles bons fluídos da máquina do Dr. Ferdinand.

Comparando-se aos dias atuais, o início dos anos 80 era algo romântico no que diz respeito a tráfego urbano em São Paulo, mais precisamente no bairro de Pinheiros, onde cresci. Era na rua, em pequenos trajetos cotidianos que me encantava vendo a passagem dos carros e toda aquela atmosfera. Tudo era diferente, numa ensolarada manhã, entre um carro e outro, podia-se escutar o cantar dos pássaros, as árvores das cercanias davam frutos que podíamos colher, os motoristas particulares usavam uniforme e quepe, andávamos tresloucadamente de bicicleta pelas calçadas e ruas, não havia muita variedade entre os modelos dos veículos, mas a alegria surgia em suas cores que iam das psicodélicas dos anos 70 às novidadeiras metálicas, em tons elegantes de marrom, verde, azul e cobre. Existiam a quitanda, a sapataria, a mercearia e a loja de bugigangas chinesas, todas na mesma quadra. A moça bonita nos fazia parar, nem tanto por ela, mas sim pela rara 450 SL que dirigia, nitidamente em ritmo de desfile. As coisas pareciam andar mais devagar, as famílias pareciam ser mais felizes.

Gostava dos carros com formas arredondadas, Fusca que era o trivial, Karmann Ghia e Gordini que mesmo fora de produção, eram encontrados em bom número. Adorava carros pequenos e esportivos fora de série, a "salvação" para quem viveu o hiato das importações 1975-1990, com destaque para o Puma VW. Admirava os muscles brasileiros, Maverick GT e Charger R/T, mesmo numa época em que os pobres glutões por gasolina eram abandonados nas ruas, vivíamos a segunda crise do petróleo, a inflação era galopante, postos de gasolina fechavam na sexta-feira e reabriam na segunda.
Deparar-se com algum importado era como achar aquela figurinha rara e improvável, nessas raras ocasiões criei gosto pela Alfa Romeo, admirando principalmente as GTV que vieram pra cá em bom número pelas mãos da Jolly do Emílio Zambello e Piero Gancia e também pelas Porsche 911, que vinham pela saudosa Dacon do Paulo Goulart.

Nesses primórdios dos anos 80, os carros da década anterior eram senão maioria, metade do que se via nas ruas, mesclando-se com os lançamentos de então, os modelos tinham personalidade ou característica marcante e eu adorava matutar sobre isso, na minha imaginação o Fusca era o pau pra toda a obra, a Brasília era a família, o Corcel era o austero e comedido, o Fiat 147 era a engenhosidade, o Passat era a esportividade inteligente, o Maverick era a esportividade pornográfica, o Puma era o playboy, o Dodge Dart era o malvado, o Galaxie era o poder, a Alfa 2300 o "Connoisseur", a Veraneio era a polícia, a Kombi era o carreto, o Jeep Willys era o trabalho, a Variant o fim de semana, a Belina as férias, o Miúra o cafona, o Ádamo o peculiar, o MP Lafer o excêntrico, o Santa Matilde era a boa construção, o Karmann Ghia era a obra de arte, o TC era o Porsche tupiniquim, o Bianco era a  harmonia, o Gol era a máquina de costura, o Del Rey e seu reloginho azul eram a síntese do luxo, o Monza o futuro bom moço, o Chevette era o carrinho tinhoso, o Gurgel era a esperança, o Uno a modernidade, o Escort era o luxo compacto, o Voyage era a racionalidade, a Parati a família moderna, o Santana um novo sentido para a palavra conforto, a Mercedes S era a embaixada e o Opala 250-S era "o motor".

Tomei algumas decisões na vida que me afastaram do automóvel como profissão, mas sempre o mantive como assunto presente, convivendo e participando em diversos universos correlatos. Entre pilotagem, mecânica e design, mais do que tudo me interessei pelo estudo do bom jornalismo automotivo que reúne um pouco de todo o resto e tem o poder de síntese, exprimindo o real caráter do automóvel.
Desde o advento da internet que possibilitou a comunicação numa dimensão de tempo e abrangência jamais vista, inúmeras portas foram abertas para o autodidata em áreas de conhecimento específico. Na sequência desse desenvolvimento surgiram novos canais de comunicação como fóruns, sites e blogs, inimagináveis a bem pouco tempo atrás, sempre achei uma maneira fantástica e democrática de expormos e debatermos assuntos com grupos de pessoas com interesses em comum.
Participando muitos anos em diversos fóruns automobilísticos decidi que chegara a hora de exprimir minhas opiniões e principalmente dividir experiências.
Inaugurei o blog com um texto sobre Fuscas customizados, que escrevi há algum tempo em um fórum específico.
Pretendo escrever principalmente sobre os seguintes tópicos: questões históricas da indústria automobilística e do universo automotor, notícias, atualidades e impressões ao volante de automóveis que dirigir em tempo presente. Neste último, fazendo breves resumos sobre a parte técnico-descritiva para dar ênfase à questão das sensações ao volante, sejam elas ergonômicas, funcionais ou emocionais. Espero que gostem.

Boa leitura,

André Franco

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