quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Uma Análise sobre Veículos Clássicos ou Colecionáveis em nossa atual realidade - parte II

Nesta matéria, fiz um apanhado de alguns veículos clássicos(foco em carros acessíveis e não "clássicos de leilão") ou apenas "futuros clássicos", na cidade de São Paulo, Brasil em Fevereiro de 2015, que de certa maneira quebram paradigmas dependendo de como se analisa. Alguns deles, mesmo em tempos de escassez de bons exemplares e bons preços, demonstram o contrário.

Rejeitado na crise do petróleo, o maior aspirante a Clássico Definitivo no cenário nacional é sem dúvida o Dodge Charger (indiferente se standard, LS ou R/T). Em uma década, seu valor subiu aproximadamente 300% e não são casos pontuais, é uma tendência de mercado que alimenta uma efetiva demanda. É natural achar alto o valor de R$ 120.000,00 por este 1976 aparentemente bem restaurado, pode-se inclusive estabelecer comparações com outros veículos da época importados. No entanto, dada sua escassez, importância desse automóvel em nosso cenário industrial (que muitas vezes é o motivo da compra de um aficionado) e principalmente estimativa de custo de um restauro bem feito, colocam rapidamente a conclusão inicial em xeque-mate.
http://carro.mercadolivre.com.br/MLB-619211459-dodge-charger-rt-1976-_JM

Talvez pela premissa de que automóveis esportivos sempre tenham precedência em termos de valorização, sem contar que em 15 anos de produção teve um número de unidades bem mais extenso, o Ford Galaxie demorou bem mais para "decolar". Hoje os remanescentes em bom estado estão subindo de preço à plenos pulmões. Às vezes, nos deparamos com preciosidades como este Galaxie 500 1974, por preços ainda convidativos e mais do que justos pelo que representam, neste caso R$ 48.000,00.
http://seculo20antigos.com.br/2014/10/08/maravilhoso-galaxie-500-74-placa-preta-impecavel/

Ao contrário dos nacionais de luxo que mal passaram para a década de 1980, o Opala demorou mais para figurar entre os futuros clássicos. Durante muitos anos, por valores relativamente baixos se encontravam bons exemplares. Hoje isso mudou e a escalada de preços sobe vertiginosamente, sendo tão caros quanto os "muscles" brasileiros se em versões raras como os SS 4 portas do início dos 70, os SS 6 em geral e alguns cupês com 1/2 teto vinílico "Las Vegas". Já a versão Diplomata esteve cotada como carro de luxo "definitivo" por aqui pra quem viveu os anos 80. Nos dias atuais, o que se encontra são carros em estado lamentável, convertidos à gás, reformados e longe dos padrões de originalidade. Encontrar um exemplar sem restauração, pintura ou qualquer outra intervenção, ostentando todos os itens originais de época como o belíssimo 89 Automatic-4 da foto, é um verdadeiro achado. Longe de ser contudo um futuro clássico acessível, o preço de R$ 39.000,00 não pode ser categorizado como equivocado, dificilmente alguém teria grandes prejuízos com esse carro.
http://www.webmotors.com.br/comprar/chevrolet/opala/4-1-diplomata-se-12v-alcool-4p-automatico/4-portas/1989/12015121

Sem dúvida que a carroceria W201 foi a experiência das mais felizes que a Mercedes Benz teve em se tratando de veículo compacto para o padrão da marca, logo em sua estréia diga-se. Exponencialmente mais caras e desejadas são as versões esportivas 190E 2.3-16 e 2.5-16 by Cosworth, a versão 1993 de despedida LE (US Market 1400 unidades) com motorização 2.3 e 2.6 em cores exclusivas e por fim a versão 2.6 com o tradicional 6 em linha da marca. A unidade anunciada é uma dessas remanescentes em aparente estado impecável e elegante pintura tom sobre tom, embora hajam erros de denominação no título do anúncio e na atribuição dada à disposição de cilindros do motor. O preço 55 mil, é relativamente alto, mas deve valorizar ainda mais daqui por diante. *Tanto neste exemplo como em alguns outros, o proprietário faz o valor flutuar como na Bolsa de Valores, dias após a matéria, valor alterado para 65 mil reais.
 
Para o mercedista "iniciado", eis aqui uma bela "Dallas", carro até hoje longe da preferência de alguns colecionadores em função principalmente da mais desejável "Pagoda". Mas como os preços desta última se elevaram a níveis impensáveis, a sucessora volta a ganhar holofotes. Excelente para passear e atingir velocidades altas com seu poderoso V8, confortável, o carro não chega a ter comportamento verdadeiramente esportivo mas esbanja charme. O preço também alto (85 mil), está no entanto na média de mercado (se é que ele existe); deve subir ainda mais.
 
Tido como o mais importante fora de série nacional, o Puma Vw é sempre desejado e valorizado quando na sua 1ª ou 2ª versão, a chamada Tubarão que foi até 1975. Não possuía as janelas traseiras, em seu lugar guelras que lhe renderam o apelido, além claro de outros pormenores. Houve tempo, próximo à virada do milênio, que esses carrinhos custavam menos do que certas versões de Fuscas. O preço aumentou principalmente em função da diminuição da oferta de exemplares realmente bons e originais. O do anúncio, 1974 está cotado em 39 mil mas tem bons predicados.
 

Nem sempre o mais desejado é o melhor, a não ser que a opinião dos outros seja mais importante do que a sua. Como não é meu caso, falo sem medo de errar que o melhor carro esportivo fabricado pela VW no final da década de 80 não era o alardeado e cotado hoje a preços absurdos, Gol GTI. Seria difícil manter por muito mais tempo a carroceria do Passat em linha em termos estilísticos, mas a verdade é que o carro foi descontinuado em sua melhor fase. O "canto do cisne" foi a derradeira versão 1.8 GTS Pointer. Esse carro andava tanto quanto seu irmão famoso de cor exclusiva e motor injetado, só que fazia muito mais curva. Aliás, esse carro era tão bem acertado dinamicamente já em suas versões de rua que seria referência ainda hoje nesse quesito. Massacrado por proprietários "cupins de ferro", virou sinônimo de carro de "rachador", nunca emplacou como possível futuro clássico. Agora, reais remanescentes e até alguns bem restaurados começam a chamar a atenção. O da foto, não chega a ser uma "máquina do tempo" mas é um carro aparentemente honesto por 19 mil.
 
O Fusca deve ser considerado como clássico definitivo, em primeiro lugar porque ele já alcançou esse status mundo afora, ou seja não é um aspirante como tantos outros. Quem não teve sua própria história de vida ligada a um VW desses é porque provavelmente tem menos de 20 ou 25 anos, já que ele foi figura mais que presente em nossas ruas até os meados dos 90. Fora isso, é uma senhora aula de como iniciar a vida colecionista sem grandes sustos. As versões  são inúmeras e com as mais distintas variações de valor, estamos falando de um carro que atravessou 5 décadas. Apesar disso, ele evoluiu consideravelmente nesse tempo, principalmente na parte mecânica e dinâmica. Mesmo sem termos sido contemplados com as últimas versões mundiais 1302 e 1303 com as muito melhores suspensões dianteiras McPherson, quem já dirigiu boa parte dos Fuscas brasileiros sabe bem as diferentes características de cada um. Por exemplo, os 1200 de 59 a 66 são carros prazerosos no sentido de conviver com cheiros, sons e comportamentos de outrora, mas absolutamente inviáveis de acompanhar o fluxo de uma via expressa nos dias que correm. Os Fuscas Itamar, apesar de terem evoluído em certas coisas, são tidos por muitos como inferiores em alguns detalhes de acabamento aos da década de 80. Estes últimos eram bons carros, mas jamais darão a mesma sensação de guiar  um Fuscão 1500 do início dos 70, na minha opinião o melhor da saga. Outra versão interessante é a 1300 "Tigre" de 67 a 1970(1a fase). Seu motor já não sofre do problema relatado dos 1200 cm3, além disso, sua carroceria e detalhamento possuem quase todo o charme de seus ancestrais "Split" e "Oval" da década de 1950...de preços inenarráveis. Além disso a manutenção de sua mecânica é simples, não faltam peças em comparação aos mais antigos.
Hoje já é difícil achar um carro desses em estado realmente louvável. Muitas vezes, restaurações nem tão rigorosas botam tudo a perder, principalmente na questão da tapeçaria, tanto que muitos apregoam a manutenção da tapeçaria "sem reformas" por mais que esta esteja deteriorada. O simpático Bege Nilo do anúncio está impecável, por dentro e por fora, todo original, sem reformas equivocadas nem os famigerados sobrearos, faixas brancas, latas nos para lamas, galões de cor não original ou ainda dos "porta trecos de bambú". É o tipo do carro "pronto" em termos de não ter que resgatar nada, apenas mantê-lo. Isso pode não ser uma coisa tão clara a quem não tem certa vivência com esses veículos, mas a longo prazo fazem toda diferença. Exemplar digníssimo, por 18 mil.
 
Se a vontade é ter um clássico oriundo da linhagem de Ferdinand e Butzi mas o lado racional falar mais alto, porque não apostar numa ainda não sobrevalorizada 996? Não falando em modelos pré 1974 que são impensáveis a não ser que se tenha uma boa experiência com clássicos e sobretudo uma condição financeira muito mais do que especial, levando em consideração a dispendiosa manutenção quase intrínseca às menos caras 930 e os valores altíssimos já praticados pelas 993 air cooled, pensar nas 911/996 e até 997, é quase como ouvir o preâmbulo da solução. Além do mais, falamos de carros mais atualizados, utilizáveis com menos despesas de manutenção (via de regra)e a garantia de ser um futuro clássico. Notem que belo exemplar 1998 de cor sóbria, pouco rodada e de câmbio mecânico e tração apenas no eixo traseiro, como uma 911 deve ser. O valor pedido de 145 mil, para o chamado "padrão Brasil", é mais do que justo, coloca em xeque outros carros mais caros e menos competentes que ela inclusive.

 
Carro responsável por nivelar "por cima" aquele conceito de que no Brasil só se faziam carroças, alardeado por um tal presidente da aurora dos anos 90. "Absoluto" era seu merecido slogan, símbolo de uma época, não lembro de nenhum outro salto tecnológico/dinâmico tão grande dentro da história de nosso mercado, a não ser mirando nos exemplos estrangeiros que aportavam por aqui naqueles mesmos anos. Esse carro oferecido à partir de 1992, na versão CD, com motor 6 cilindros de 3 litros importado da Opel alemã, era notável, excelente relação r/l e portanto suavidade de funcionamento. Seus números de potência e torque (165 cv a 5800rpm e 23,5 Kgf.m a 4200rpm) não traduziam o prazer de condução, na minha memória, superior ao sucessor (motor 4.1 litros do Opala repaginado pela Lotus). Esteticamente, foi a versão mais imponente e harmônica, com o passar dos anos desintegrou-se nas mãos dos futuros proprietários. Pouquíssimas unidades remanescentes em estado de originalidade e conservação dignos de nota. Este automático por singelos 25 mil, é um deles.
http://www.webmotors.com.br/comprar/chevrolet/omega/3-0-mpfi-cd-12v-gasolina-4p-automatico/4-portas/1993/12201962

A Alfa 2300 sempre figurou entre os carros mais caros e requintados enquanto esteve em nosso mercado. Expoente em tecnologia, a Alfa Romeo aqui, desde seu estabelecimento em Xerém-Duque de Caxias, chancelando a estatal FNM(criada sob o Plano de Metas e GEIA) que produzia sob licença a chamada Alfa JK 2000 (depois 2150, praticamente idêntica à Berlina fabricada na Itália), sempre foi referência nesse quesito. Numa época aonde mal se pensava em freio à disco nas rodas dianteiras dos carros mais caros, a 2300 oferecia disco nas 4 rodas, ao invés de arcaico comando de válvulas no bloco, havia um duplo comando no cabeçote(reinterpretação do bialbero), câmaras de combustão hemisféricas, câmbio de 5 marchas dentre outras coisas. De certa forma, em termos de carroceria a 2300 pagou o preço da matriz italiana não aprovar a produção da Alfetta por aqui (carro fonte de inspiração para a 2300 porém um pouco menor, mais leve, de linhas harmonicas e dinamicamente superior), o desenvolvimento foi feito sobre a mesma planta fabril (anos mais tarde sendo repassada ao controle Fiat já que a mesma comprara a Alfa na Itália) e também sobre a plataforma "JK", com alguns incrementos. O carro agradava, era espaçoso mas um pouco desproporcional principalmente nas linhas traseiras. Atingia um estreito nicho de mercado que buscava por refinamento técnico e dinâmico. Perdia para a concorrência de alguns automóveis da época analisando-se itens isolados como exemplo conforto e fiabilidade. Por ser de maior dimensão num tempo que a Alfa já não mais fazia carros tão grandes, chegou até a ser exportada para países da europa, denominada Alfa Rio, mas não conseguiu se estabelecer.
Até hoje não conseguiu se firmar como um real clássico nacional, mas isto está mudando, seja pela escassez do modelo, seja pelo entendimento de que ela é uma Alfa mundialmente única (requisitada inclusive por colecionadores da marca mundo afora). Contra a maré, pesam os fatos de que a manutenção especializada do modelo não é difundida como outras marcas (quem tem antigos sabe que know how específico é sempre importante) e algumas peças mecânicas não são intercambiáveis com modelos italianos, tendem a extinguir-se, sem falar em peças de acabamento. Portanto adquirir um carro desses para restauração, é má idéia. Exemplares como a 74 (ainda Xerém e não Betim, ou seja, ainda uma Alfa, "Alfa")do anúncio por preço razoável de 30 mil, são quase impossíveis de se achar.
http://carro.mercadolivre.com.br/MLB-619785843-alfa-romeo-2300-para-colecionador-_JM#redirectedFromParent

Se a idéia for gastar relativamente pouco por um futuro clássico quase garantido, como a belíssima Alfa 156 desenhada pelo renomado Walter de Silva, melhor que seja agora, enquanto restam alguns poucos exemplares bem mantidos (já que a maioria se afunda em deterioração em parte pelo péssimo suporte que a Fiat deu à marca no Brasil). Dinamicamente e mesmo em termos de sensações ao volante, nada como uma Alfa 164 e seu V6 Busso, seja 12 ou melhor ainda 24V. Esses carros tem desempenho realmente surpreendente mas a manutenção beira o intangível, seja em virtude de peças, seja principalmente pela mão de obra inexistente para essa refinada mecânica que necessita inclusive de amplo conhecimento literário e de ferramental específico. Já a mais difundida mecânica dos 4 cilindros "Twin Spark", motores muito bons em médios e altos regimes, equipou diversos modelos da marca vendidos aqui (145, 155, 147 e 156), além disso possui ampla equivalência de peças com mecânicas Fiat (Brava, Marea e até Palio). Fazendo manutenções preventivas e mantendo um estoque de peças de reposição é carro para muitos anos, com piacere de guida desde que se ature a suspensão, de curso curto, que apesar de não ser demasiadamente dura, nunca recebeu a devida adaptação para nosso solo lunar, traz certa sensação de aspereza e pouca robustez. Em asfalto bom contudo, é uma delícia. Em termos estilísticos é a vanguarda absoluta de sua época. Poderia tranquilamente ser produzida ainda hoje com pequenas readequações. Acho até que "envelheceu menos" que a sucessora e já descontinuada 159. Achar um bom exemplar depende de conhecimento específico com esses carros e muito mais do que uma análise visual, a dinâmica é essencial. Dada a baixa probabilidade de remanescentes, esses modelos tendem a virar verdadeiros unicórnios no futuro e quem sabe até valorizar-se, contrariando os céticos alfistas que não consideram os "Alfa-Fiats" como reais possibilidades do amanhã. Nas fotos o carro parece bom, quiçá merecedor dos 25 mil, atentem no entanto para o erro na denominação do modelo.
http://carro.mercadolivre.com.br/MLB-628734759-alfa-romeo-164-elegance-top-1999-_JM#redirectedFromParent

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