sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Uma Análise sobre Veículos Clássicos ou Colecionáveis em nossa atual realidade - parte III

Até certo tempo atrás (digamos, meados de 2014) observávamos os carros Clássicos ou Colecionáveis numa ascensão em termos de cotações de maneira a criar limites à certos modelos almejados, devido à escassez e valores.
País imerso numa crise sem precedentes desde 2015 (embora a coisa tenha se originado bem antes), não diferente, o mercado de antigos mudou. Alguns valores se estagnaram em meio a uma inflação considerável, outros proprietários colocaram seus hobbies na linha de frente de seus cortes, fazendo ofertas surgirem...e obviamente isso reflete em todo o mercado. Algumas coisas saíram "da gaveta" nesse entretempo e de repente, alguns exemplares estão novamente ou pela primeira vez, disponíveis à venda.
Mesmo se pegarmos os modelos mais cobiçados, não se engane quem acha que a coisa não mudou, afinal 100 mil reais de hoje, é muito menos do que o mesmo de 2 ou 3 anos atrás. Se bem pesquisarem, verão que via de regra as cifras abaixaram ou se mantiveram para quase todo esse filão, pouco prioritário por assim dizer. Sem contar a variação cambial, girando em torno de 4 dólares para cada real, que fez qualquer comparação a ser feita com mercados externos perder completamente o parâmetro. Se antes haviam movimentos à favor das importações de autos antigos com mais de 30 anos, rapidamente o câmbio e  a "reburocratização" aduaneira (de uma Receita ávida por dividendos em tempos de vacas magras), fizeram a coisa cessar...e no caminho que vai, quem sabe se extinguir.
No sentido contrário, as exportações que dizem ir de vento em popa (apesar de estarem rendendo mesmo apenas ao setor primário, já que a indústria exportadora é quase que totalmente - graças ao Foro de São Paulo e sucessivos governos do PT - de origem de capital estrangeiro), trazem demanda americana e européia pelas barganhas cambiais daqui. O melhor exemplo são os colecionadores de Volkswagen alemães que tiveram suas Kombi T1 praticamente dizimadas por lá. Já tem profissional daqui vivendo apenas de arrecadar, restaurar e exportar Peruas Kombi, principalmente de 1975 para baixo.
Alguns modelos importados que estavam com preços praticamente estabilizados como exemplo Jaguar E-Type, começaram a valorizar sobremaneira lá fora devido à escassez, lá se foram alguns felinos por esse rumo.
No geral a coisa piorou, porque modelos realmente bons, estão assegurados em coleções pouco suscetíveis à problemas econômicos. Dos que sobram, coisas boas estão indo embora pra provavelmente não voltarem nunca mais ao país e as importações independentes estão à míngua.
No sub cenário dos Clássicos e Futuros Clássicos nacionais, muita coisa está disposta à venda por valores relativamente mais baixos, mesmo levando em conta a queda no poder de compra.

Mais do que nunca, deve se olhar com carinho para os "futuros clássicos", principalmente dos anos 90. O que poderia parecer caro sobre um primeiro olhar, deve ser repensado se a coisa for realmente boa. A máxima continua sendo: -Compre mais caro um carro irretocável ao invés de pagar a metade num que jamais será...ao final de uma temporada de restauro no pior, verá que as contas batem, os resultados não. Lógico que insistir em figurinhas carimbadas, difíceis de se encontrar e com pouco potencial de subir ainda mais é besteira. Que tal ir na direção contrária? Por exemplo, só desavisados não considerariam o Chevrolet Calibra como um futuro clássico. Só pelo fato de ter formado a trinca de ouro de memoráveis tempos da DTM e ITC ao lado das Alfas 155 e Mercedes C Klasse, já é um bom motivo. Tá certo que eles eram "um pouquinho" diferentes em sua essência...

Mas o conjunto mecânico das 155, incluindo os Twin Spark das vendidas por aqui, também era esponencialmente inferior ao carro de pista (tecnologia de F1 + bolha) e elas não ficaram menos interessantes por isso.
Com manutenção descomplicada, esse carro não representa nenhum desafio para mantê-lo. Bons exemplares são encontrados na casa dos 30 mil reais. Dos poucos que vieram, vários se mantiveram.

http://sp.olx.com.br/sao-paulo-e-regiao/veiculos/carros/calibra-94-colecao-111333303

http://sp.olx.com.br/grande-campinas/veiculos/carros/gm-chevrolet-calibra-rarissmo-em-otimo-estado-159298753?last=1&em=1
Porém, eu não pensaria muito em pagar pouco mais de 50 por um carro em estado de novo como este.

Muitos colecionadores esgotaram qualquer boa chance de se ter um Gol GTi (um marco da nossa indústria)em ótimo estado por um preço razoável, não muito distante disso, o Escort XR3 conversível, sempre se referenciando a exemplares imaculados. Boa parte disso se deve ao fato da maioria das pessoas se influenciar por ondas, modas e tendências, sem se perguntar ou ao menos testar modelos diferentes e chegar a uma conclusão própria.
É meio recorrente ouvir sobre os "esportivados" da década de 90, muitas vezes narrado por jornalistas que nem dirigiram esses carros na época. Esportivado uma ova! Hoje sim existem carros "mal adesivados" que vendem falsas promessas de desempenho e ficam a uma jamanta de distância dos reais esportivos, principalmente dos importados, cada vez mais próximos e portanto servindo como parâmetro.
No início, a verdade é que com algumas exceções, a maioria desses carros teve em sua época, real importância esportiva, entregando sensações e números. Podiam estar a léguas de Porsches que praticamente só se conhecia por revistas ou pelas vitrines da Dacon(antes de 1975). Nessa época, Maverick GT, Dodge Charger R/T, Opala 250-S(independente da versão) e Puma GTB eram reais esportivos, deixando quase tudo que existia pra trás.
Depois, na pós crise do petróleo dos 80, as montadoras fizeram belos trabalhos por aqui com base nos modelos existentes. Gol GT, Passat Pointer e Monza S/R que o digam. Esses carros possuíam vasta intervenção, quase sempre abrangia freios, suspensão e motor. Muitas novas tecnologias foram empregadas nesses modelos antes de se tornarem comuns à linha. Podemos citar amortecedores pressurizados, freios à disco ventilado, carburadores de corpo duplo retrabalhados, injeção eletrônica, comandos de válvula diferenciados...até o emprego dos cabeçotes 16v e da tecnologia Turbo posteriormente. Tudo isso ocorreu por meio desses ditos esportivados. Na verdade isso é conceito de quem não viveu essas realidades e teima em comparar carros de décadas atrás com veículos atuais, às vezes incoscientemente.

Eu particularmente andei bastante em todos eles. Tenho comigo que a fama dos esportivos da Volkswagen não se deu à toa, na maioria das vezes eram os carros efetivamente mais rápidos, principalmente em meio urbano...afora a estabilidade fora do comum de um tal de Passat GTS Pointer que nesse quesito superava qualquer esportivo nacional das décadas de 80 e 90. Curvas de baixa, média e alta, nenhuma tendência a sobre ou sub esterço ocorriam, era realmente uma referência. Naqueles dias, tanto por imprensa quanto na boca do povo, essa supremacia parecia ser abafada. Obviamente, nem publicitários e muito menos proprietários de Gol GTS/GTi falariam à esse repeito.
No geral e na minha opinião, se exemplificar o ano de 1990, a coisa estava mais ou menos assim:
-Muitos lamentavam a morte do Passat, o Gol GTi era a referência tecnológica além do mais rápido, ainda em sua primeira fase, quase o sonho impossível. O Escort XR3, vitaminado com o AP 1.8 fruto da Autolatina (desde o ano anterior), esbanjava estilo, talvez o carro mais belo dessa época. Seu trambulador esquisito e uma certa tendência a arrastar a frente, a mim, fazia a primeira boa impressão somente estética, cair por terra. Potencial o carro tinha, tanto que fez miséria nos anos de competição do "Marcas e Pilotos"...mas sob intervenção na suspensão. Parece que o DNA Ford de fazer carros macios, ia meio de encontro a entregar esse carro com setup mais justo. O "coringa" da época era o Uno 1.6R, muito diferente do 1.5 vendida até 1989, esse motor ACT entregava torque e potência de maneira muito diferente, apesar dos números próximos. Os 1.6 à álcool sem ar condicionado andavam na frente dos Gol GTS. A Fiat ainda corria pelas beiradas do mercado, falta de confiança ainda era o fiel da balança ao rumar para uma das outras 3 marcas, mesmo que o sempre bom custo benefício pesasse à favor. Essas "botinhas" eram no entanto a grande barganha da época pra quem quisesse um carro com desempenho diferenciado. Além do design italiano praticamente alinhado com a matriz, seu acabamento era bom ao contrário de modelos mais simples da linha. Pesava abaixo de 1 tonelada, menos que todos os concorrentes que se alinhavam de 50 a 100 Kg acima. Era um carro ágil, com comandos de acelerador e freio hipersensíveis ao menor toque. Ergonomia e prazer de guiar irretocável, comandos satélites do painel bons como jamais vi se repetirem na indústria.
O Kadett já era apelidado como a "eterna promessa", quando finalmente em 1989 a GM, depois de vários atrasos, conseguiu lançá-lo. No início caríssimo, existiam fila e ágio. Depois a coisa foi se acalmando. Mesmo assim, Kadett GS e depois GSi, figuravam sempre entre os esportivos mais caros, só perdendo para as versões conversíveis dele e do Escort.
O carro sempre parecia ficar um ponto atrás em comparativos editados da época, principalmente em análises item a item. Mas no fundo, tenho a sensação de ter sido o melhor automóvel dessa estirpe que tivemos, pelo menos nesses anos (89, 90,91), ainda apenas como GS carburado. O acabamento, padrão GM era o melhor indiscutivelmente, seus bancos Recaro dão aula de ergonomia até hoje, a sensação de guiar era muito boa. Carro justo mas mais macio que os VW, permitia uma utilização esporte e ao mesmo tempo horas numa determinada viagem não cansavam. Tinha recursos inovadores como o inflador à ar na suspensão traseira via porta malas, permitia deixar o carro alinhado com a frente mesmo carregado. Em resumo, a sensação de solidez era algo que se fazia presente. O mecanismo mecânico do teto solar (opcional) funcionava muito bem e o ar condicionado parecia gelar mais que alguns outros modelos (exceto Fiat que era excelente nesse ponto). O calcanhar de aquiles era o consumo bem elevado além de uma nítida sensação de morbidez quando na versão à gasolina + ar. Aliás, essa é uma pauta para uma matéria exclusiva, pois o que esses carros variavam de desempenho apenas dentro desses 2 parâmetros (combustível empregado e ar condicionado) era algo surpreendente.

É praticamente uma máxima do colecionismo automotor que, carros caros em sua época tem mais chances de sobrevivência aos dias atuais do que pares mais baratos. Outras tantas variáveis existem, mas essa é uma das mais relevantes. Não diferente, é quase impossível achar um bom exemplar de Uno 1.5R (87/88/89) e 1.6R (90, ainda com conjunto óptico frontal grande). Esses carros esfarelaram com o tempo e na mão de diversos proprietários anciosos por desempenho. Quando um exemplar como o apresentado aparece, é digno de aplausos.

http://carro.mercadolivre.com.br/MLB-738617334-uno-16r-_JM
Muito bem mantido por décadas em Farroupilha - RS, este exemplar rodou apenas 86 mil Km, trata-se de um exemplar sem ar condicionado e à gasolina (imagino o porque). Numa das melhores cores das disponíveis, a sensação de equilíbrio e esportividade eram singulares. Mesmo se comparado ao mais rápido Uno Turbo que chegou algum tempo depois, prefiro esse aí de cima de reações mais homogêneas, sem as "passarinhadas de frente" de seu irmão arrabbiato.

http://carro.mercadolivre.com.br/MLB-725346689-kadett-gs-20-no-gol-gt-gts-gti-passat-pointer-_JM
Vejam esse GS 89, parece tão bom que até dá pra relevar a troca dos piscas dianteiros que deveriam ser âmbar. Esses bancos Recaro, são uma aula de ergonomia a muito esportivo atual. Essa era uma época em que as montadoras aceitavam pagar por fornecedores de produtos específicos realmente diferenciados. Isso porque essas versões eram tão caras que a conta fechava. Depois veio a massificação dos nacionais que mesmo em versões de topo, tem a obrigação de custar menos para sobreviver no mercado. Não dá pra negar certos retrocessos implícitos nesses processos mercadológicos.
Esse vermelho é um a álcool e sem ar, oposto ao irmãozinho sonolento (gasolina + ar), original já dava trabalho para o Gol GTi, com algumas horas em cima do 2E a coisa ficava melhor ainda.

http://carro.mercadolivre.com.br/MLB-730101082-kadett-gsi-19931994-branco-nepal-_JM
Que tal um GSi 1994, em estado semi imaculado à preço de Fusca? O mais legal desses carros é o nível de interação entre a coleção e o uso, já que além de possível é prazeroso mesmo em meio ao trânsito, com direito a ar condicionado.

Um comentário:

  1. Kadett GSI principalmente os vermelhos, amarelos e Verde Beethoven estão pegando preço absurdo... Os GTI então não se consegue comprar mais coisa boa por menos de 50 mil!

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