quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Divisora de águas


Oriunda da dinastia Alfa desenvolvida no pré-guerra (6C 2300 e 2500), a 6C 2500 Super Sport como a da foto acima, é a variante final do velho estilo elegante e luxuoso da Alfa Romeo que nasceu sob a orientação de Vittorio Jano e Wilfredo Ricart. O "6c" refere-se ao engenho que tem a referida quantidade de cilindros na posição longitudinal (nasce com a "1500" de 1925). A 2500 SS, carroceria que com pequenas modificações existiu entre 1938 e 1952 (com a produção parcialmente interrompida nos anos de guerra), totalizou pouco mais de mil unidades, maciça maioria de coupés.

 
Nessa época a empresa ditava regras da vanguarda mecânica, como por exemplo o duplo comando de válvulas no cabeçote e a suspensão independente nas 4 rodas. Tanto, que ao introduzirem tais carros em competições, acumularam uma seqüência impressionante de vitórias e pódios , incluindo  Mille Miglia e Targa Abruzzo. No pós guerra veio a conquista da Targa Florio em 1950, praticamente com a mesma motorização.
 

O mais potente dos modelos 6C 2500 foi o Super Sport. Com três carburadores Weber, rendia 110hp mesmo na baixa octanagem do combustível disponível na Europa naquela época. A estrutura relativamente rígida da carroceria, aliada a suspensão independente nas 4 rodas, garantia uma superioridade enorme sobre qualquer outro projeto de época no que tange a estabilidade. Esses carros conseguiam agradar quem os utilizava no dia a dia e ao mesmo tempo estar presentes em provas regionais, sem qualquer tipo de preparação, ainda sim sendo competitivos. Sua combinação de engenharia sofisticada, durabilidade e carroceria atraente, garantiu a procura por entusiastas, clientela específica da marca. Três variantes foram construídos no pós-guerra, incluindo duas versões fechadas (uma por Touring e uma pela própria Alfa Romeo). As cabriolets ficaram a cargo da Pinin Farina (sim, ainda da época que se escrevia em separado). Houveram também versões de produção limitada  Boneschi e Ghia Supergioiello de 1950(apenas 4 produzidas), como na foto abaixo.
 
 
O design de proporção e compreensão inata, aliada a preocupação aerodinâmica, foi expressa em curvas fluidas e massas equilibradas que complementavam a proposta de desempenho das grandes Alfas, linhas inclusive que mantinham resquícios da Art Deco. A Alfa Romeo 6C 2500 SS é o ponto máximo dessa expressão, além disso, oficialmente foram feitas apenas 63 unidades desse veículo (após a guerra), o que o torna "santo graal" de colecionadores da marca.
 
 
Mesmo as conversíveis, quase sempre acabavam participando de corridas de fim de semana para gentlemen drivers, seus atributos faziam com que o público consumidor os comprasse por tal motivo. Esse quase inerente histórico de competições, contribuiu para rápida valorização, que por sua vez assegurou o não desagregamento entre motores e carrocerias. A grande maioria perdura ostentando "matching numbers", um extenso e fiel portfólio histórico. Assim como as "Gullwing" e os "XK", praticamente já nasceram sendo clássicos.  Só que ao contrário dos exemplos citados, que tiveram seus conceitos desenvolvidos em modelos seguintes, a Alfa, de público extremamente peculiar, já não encontrava as vendas necessárias naqueles primeiros anos da década de 1950, que sustentassem o custo e forma de produção inerentes ao carro, época de reconstrução e reestruturação econômica. Um nicho intermediário seria a nova visão da marca, o modelo "1900" a materialização desse novo conceito.
 
 
No Brasil, se sabe da existência de poucas remanescentes 2300 e 2500 (de origem, já que há a possibilidade de outras entradas via importação recente), dentre elas obtive conhecimento de
5 restauradas, entre conversíveis e Freccia D´oro (4 saíram da mesma oficina em Tiradentes - MG), e em estado praticamente original, 1 do museu Matarazzo em Bebedouro-SP. Esta que sem dúvida, foi a grande divisora de águas da marca, desde os primórdios da Darracq até a absorção pela Fiat na década de 1970.

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